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Vestido de Festa

Era uma vez uma bela princesa que, apesar de ter todas as riquezas do mundo, vivia sempre triste e insatisfeita. O rei, seu pai, desejando apenas a sua felicidade mimava-a e enchia-a de riquezas sem igual, na esperança de a ver sorrir, mas isso raramente sucedia.

Um dia o rei resolveu dar uma festa. Seria a maior e mais maravilhosa festa alguma vez vista naquele reino e, por isso, toda a corte, todos os criados, todos os súbitos trabalharam dias e dias, sem parar, na organização da festa.

Assim que o rei contou à princesa que iria acontecer uma festa, toda esta vibrara de expectativa e entusiasmo, como há muito tempo não acontecia. Mas, no meio de tanto alvoroço, nasceu também uma preocupação que lhe consumia a mente: o que iria levar vestido?

Um acontecimento de tal envergadura e sem precedentes, até nos reinos mais distantes, exigia um vestido à altura, um vestido sem igual.

Chamou por isso os melhores estilistas, alfaiates e costureiros para lhe fazerem o mais belo e rico vestido alguma vez visto. Estes trabalharam dia e noite afincadamente num vestido maravilhoso…mas nada do que faziam parecia ser suficiente para a princesa.

Decidiu então que o pano teria de ser algo verdadeiramente excepcional e, como tal, tecido pelas mãos minúsculas de mil crianças. E estas trabalharam dia e noite, mas ainda assim, nada parecia ser suficiente para a princesa.

Achou, pois, que lhe faltava forma e, que o vestido devia ser bordado em ouro pelas mãos talentosas de mil tecedeiras. E assim, os pais das mil crianças foram requisitados para trabalhar dia e noite nas minhas de ouro, enquanto as mães teciam e teciam sem parar.

Mas, ainda assim, o vestido não parecia suficientemente belo para a princesa.

Faltava-lhe brilho, dizia ela. E por isso, as crianças e adultos que ainda estavam livres no reino passaram dias e noites nas minas, a extrair pedras preciosas ou nas amplas salas do palácio a aplicá-las no vestido.

Não havia uma alma no reino que não tivesse trabalhado naquele vestido e, por isso, no dia da festa todos estavam exaustos. Muitos estavam mesmo doentes e desnutridos.

Mas nada disso entendia a princesa, pois tudo aquilo em que pensava era na sua entrada grandiosa no salão de baile. Como todos olhariam para ela, como a admirariam e como suspirariam de inveja daquele maravilhoso vestido.

Chegada a hora a festa, a música soava alegremente nos salões do palácio. Carruagens tinham já chegado de todos os cantos, trazendo nobres convidados para a maior festa já realizada.

No seu quarto, a princesa vibrava perante a expectativa. Em breve iria apresentar-se e não podia estar mais radiante. Tão radiante como nunca tinha estado.

Quando chegou finalmente o momento em que a sua entrada foi anunciada, a princesa entrou altivamente nos salões de baile, porém, em vez de ouvir elogios e suspiros de admiração, tudo o que recebeu foram olhares de desprezo e reprovação.

Acontece que, embora o vestido fosse verdadeiramente deslumbrante, a história da sua realização já tinha corrido por todo o lado. As notícias dos trabalhos intensos e desumanos a que os habitantes do reino tinham sido sujeitos desagradavam até ao mais inconsciente dos nobres que ali se apresentara naquela noite.

A princesa, que até então nunca tinha pensado no impacto das suas acções, sentiu-se novamente triste, mas acima de tudo envergonhada. Retirou-se para o seu quarto onde ficou a olhar pela janela, enquanto pensava no preço que todas as suas riquezas teriam tido na vida daquelas pessoas ao longo dos anos.

Percebeu então como isso a deixava infeliz, sobretudo porque nada do que possuía materialmente tinha sido capaz de lhe trazer felicidade.

No dia seguinte saiu para a rua, distribuindo entre os mais necessitados as riquezas que não lhe faziam falta, recusou, a partir daí, todo e qualquer tipo de extravagância e desperdício no palácio e dedicou todos os seus dias a melhorar a vida dos outros.

Encontrando um sentido para a sua vida, encontrou também o seu sorriso interior, há muito perdido.

publicado na Revista Inurban em julho de 2019

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