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António, em 2018 tiveste a oportunidade de fazer duas missões, em campos de refugiados na Nigéria e sei que tens já uma nova agendada para este ano. Quais são as tuas motivações para fazeres este tipo de missões?

O que me move no fundo bem la no fundo, é o sofrimento e a dor que possam ter os que não se sabem defender do mal. E desses, os que mais vezes penso durante a semana, são as crianças . São os primeiros na minha preocupação e atenção e logo prioridade de ajuda. Por eles atravesso oceanos e montanhas!

E se antes quase e só me perturbava profundamente o facto de existirem crianças com medo doenças e fome, e portanto o sofrimento horrível que isso só pode ser na alma dum pequenino ser . À medida que fui tendo mais anos de vida, deixei de conseguir ser indiferente a qualquer tipo de sofrimento, como quando era novo e não sentia tão bem outros sofrimentos. Não obstante, a prioridade essa nunca se desvia das crianças.

O que mais te surpreendeu? Pela positiva e negativa

Pela positiva, sempre a capacidade das crianças sorrirem no meio “do nada”. Sem terem nada. Nem sapatos e muitas vezes nem uma t-shirt

Pela positiva ainda e quanto aos adultos, a confiança que depositam na sua fé … perante as suas limitações na vida… perante a impotência que tanto lhes sucede enquanto tentam sobreviver e cuidar de seus filhos…
Pela positiva e sempre… a maturidade e sabedoria das mulheres no meio disso tudo.
As MÃES, ESPOSAS E AMIGAS…
A coragem de acordarem com a luz do dia, pois não há energia suficiente para terem luzes acesas muito tempo, ou por vezes nem luzes têm nas casas. E no caso do campo que visitei em África no ano passado, nem casas tinham antes de 2018. Só foram construídas em 2018.

Na prática, o que foi mais difícil para ti, em missão?

De falar o dialeto deles!

Como é vivida a pobreza nesses países? Quais as maiores diferenças relativamente a Portugal?

Acordam, vão à fonte buscar água em baldes, para se lavarem e lavarem os poucos alimentos da manhã. E depois levam as crianças à escola e dirigem-se para as suas atividades.

Sendo que a maioria trabalha no campo para garantir a subsistência da sua família.

A pobreza é vivida de varias formas. Mas na maior parte das vezes sempre com muita coragem.

Coragem de saberem que podem não ter comida na próxima semana. Ou que pode vir uma tempestade ou uma seca e arruinar a plantação…

Depois, pouco antes do sol se deitar, recolhem seus filhos e regressarem às suas casas para a segunda refeição do dia… uma às 6h da manhã e outra às 18h da tarde. .. 12h sem muitas vezes comerem nada.

Ou apenas uma manga apanhada no chão…

Na tua visão, como se pode erradicar a pobreza nesses países?

A pobreza pode ser erradicada de duas formas:

  1. Urgente: ensinar a cultivar, dotar a agricultura de instrumentos que lhes permitam protegê-la/minimizar as catástrofes. Melhorar o sistema de segurança social, para fazer chegar a comida aos que não tem terra nem dinheiro;
  2. Pedagogia aplicada de um princípio fundamental e que ficou esquecido pelos países mais avançados como os nossos:  ECONOMIA SEM EXCLUSÃO.

Quer isto dizer, repensar o desafio e a tentação do crescimento e do progresso de forma a que não deixe ficar para trás os mais fracos…

O encantador Papa Francisco fomenta com amor esta ideia de que o ser estudado e “avançado”, não seja incapaz de incluir os mais fracos e desfavorecidos.

Na prática, é ensinar às pequeninas organizações que o caminho de superação da fome doença e sofrimento, DEVE ser feito com amor pelo que está a ficar para trás.
Como?

Olhar para trás.

Olhar para baixo.

Olhar à volta e perceber se há alguém que esteja nestas condições de fome doença sofrimento…

Pois é muito fácil que nestes países, quem começa a ter sucesso, se esqueça rapidamente do que sofreram e passe a avançar na vida… ganhando velocidade e deixando para trás quem não conseguiu sair do poço. ..

E como é que nós, aqui tão longe, podemos ajudar a fazer a diferença na vida dessas pessoas?

Ao contar histórias com bons frutos… e  ao trazer caras às historias. Falar com elas pelo menos uma vez por semana. Porque não ao domingo?

O “dia do senhor”. .. não é nada mais que o “dia do amor”…

Para quem vai e quem não vai à missa (missa vem de missão), porque não tiram 7 minutos apenas para dizer um … “OLÁ !!! Como foi esta semana aí em África?

“Por aqui não faltou nada…  Mas queria que estivesses aqui ou eu aí, para dividir contigo”.

E assim… devagar devagarinho, a felicidade volta para todos nós… humanidade criada para “o bem” e seguramente não para o mal…

Entrevista a António Martins

Pai de um rapaz encantador, conseguiu escapar de uma cidade cheia de luzes, porque não tinha árvores, nem relva…onde as pessoas esqueceram que há meninos lá longe que não têm o que comer, nem água limpa.

Hoje, vive sem saber se vai conseguir ajudar estes meninos ou se conseguirá ajudar tornar a água mais limpa e o céu mais verdadeiro. Mas trabalha para isso.

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