Era uma vez um velho camponês, um homem sábio, honesto e sério que tinha feito uma pequena fortuna, às custas do seu árduo trabalho, ao longo da sua vida.
Sempre trabalhara de sol a sol, cultivando os campos de onde retirava sempre as melhores colheitas da região.
Algum tempo antes de morrer, o homem chamou os seus três filhos e disse-lhes:
– Meus filhos, tive uma longa e cheia vida, mas sinto que a mesma está a terminar. Por isso, antes de partir quero perguntar-vos qual é a herança que cada um de vocês quer que eu lhe deixe.
O filho mais velho, sendo o primeiro a falar disse:
– Pai, eu queria que me deixasses todo o dinheiro que ganhaste nos teus anos de vida. Com ele poderei ter uma vida desafogada e dedicar-me a viajar e a conhecer os lugares que nunca pude conhecer por estar aqui ao teu lado.
O pai assentiu.
O filho do meio, quando foi a sua vez de falar disse:
– Meu pai, sei o quanto trabalhaste nesta terra e como ela é valiosa, por isso, queria que me deixasses ficar os teus campos. Eu os cultivarei e tirarei um bom rendimento deles.
Sendo esta a sua vontade, o pai assentiu.
Por fim, chegou a vez do filho mais novo. O pai, um pouco triste com a avareza demonstrada pelos outros filhos, questionou-o:
– Meu filho, os teus irmãos já ficaram com o dinheiro e os campos, o que poderás tu querer de mim?
– Pai – respondeu este – não penses por um momento que fico triste porque os meus irmãos já ficaram com o dinheiro e os campos. Acontece que não era nenhuma dessas coisas que te queria pedir.
O velho homem surpreendeu-se:
– A sério? Então o que me queres pedir?
O filho segurou-lhe na mão carinhosamente e disse:
– Ao longo de todos estes anos eu observei, dia após dia, a forma como trabalhaste a terra, o dinheiro que fizeste e que investiste, mas por muito que tenha observado, receio ainda não ser capaz de ser tão bom como tu. Eu sei que tens um caderno onde foste registando cada uma das aprendizagens que fizeste no teu percurso e seria uma grande honra para mim poder ficar com ele.
O pai, ao ouvir aquelas palavras emocionou-se. Os irmãos entreolharam-se e silenciosamente perguntaram-se se o irmão teria perdido o juízo, mas nada disseram.
– Se é esse o teu desejo, assim será.
O homem morreu e a vontade dele e de cada um dos filhos foi cumprida.
O mais velho partiu nas viagens que sempre sonhara, reunindo o conhecimento que desejava mas, em pouco tempo o dinheiro acabou-se e, não sabendo o que fazer com o resultado das suas viagens, viu-se forçado a voltar a casa.
Lá iria encontrar os campos de seu pai abandonados e mal-tratados porque simplesmente não sabia o que fazer com eles. E depois de algum tempo de tentativas falhadas e muitos endividamentos, acabou por desistir.
O filho mais novo esse também tinha partido mas, ao contrário do mais velho, saíra para trabalhar, aplicando os conhecimentos do seu pai. Primeiro nas terras de outros, depois num pequeno campo que conseguira comprar para si e cujas dimensões iam progressivamente aumentando com o resultado do seu trabalho.
Também ele voltou a casa algum tempo depois para uma visita e, perante a situação que lá encontrou, não hesitou em resgatar os campos de seu pai ao seu irmão.
Quando isto aconteceu, os irmãos mais velhos aproximaram-se do mais novo e disseram-lhe:
– Meu irmão, como sabes estamos falidos e não nos resta opção senão ficar aqui a trabalhar para ti…se nos quiseres, claro.
O rapaz olhou para eles e falou.
– Não quero que trabalhem para mim… Quero que trabalhem comigo! Embora vocês tenham perdido a herança que o nosso pai vos deixou, eu quero partilhar a minha convosco!
E assim aconteceu. Os três irmãos trabalharam em conjunto, partilhando do conhecimento que o pai tinha reunido durante toda a sua vida e, com o esforço do seu trabalho reergueram toda a fortuna que este tinha construído.