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O que um “simples” sobreiro pode ensinar aos nossos filhos

Existe, numa pequena localidade alentejana, uma árvore. Um sobreiro, como tantos sobreiros que encontramos nessa região, mas diferente de todos. Um sobreiro centenário, de tamanho impressionante e um porte verdadeiramente majestoso. Uma árvore distinta, preservada e cuidada, como todas as outras deviam ser.

Recentemente tive a oportunidade de conhecer pessoalmente este sobreiro. O “Assobiador”! Assim chamado por causa das inúmeras aves canoras que os seus ramos já abrigaram. Já tinha ouvido falar sobre ele e, eu própria já falara sobre ele no meu livro Carlota, a Bolota que sonhava ir até à Lua, mas estar na sua presença foi uma experiência realmente emotiva e um exercício de reflexão.

Sob a sombra abundante daquela imensa árvore senti-me mesmo pequenina… não só pelo facto dos meus braços serem claramente insuficientes para rodear esta árvore, mas ao aperceber-me da história que ela continha.

Ali, no relativo silêncio daquele lugar imaginei quantas histórias não teriam já acontecido debaixo daqueles mesmos ramos que naquele momento me abrigavam do calor do sol…quantas histórias não se teriam vivido em seu redor…quantas crianças não teriam criado cenários de fantasia naquela paisagem…

Com mais de duzentos anos de história, se este sobreiro pudesse falar, de certeza teria muito para contar!

E, partindo deste pensamento, a minha mente vagueou para as mensagens e lições que ele teria para nos transmitir.

Que pena que as árvores não poderem falar!

Pensei eu… E parti! Feliz e grata por ter vivido aquele momento, mas um pouco desiludida por continuar a ignorar todos os ensinamentos que aquele sobreiro podia ter para me passar.

Os dias passaram, mas a sensação permaneceu comigo. A imagem daquela árvore imensa também. E à noite, quando me deitava continuava a pensar nela. E foi aí que percebi que as árvores falam…ou que pelo menos aquela árvore concreta e especial falou comigo!

E isto pode até parecer fantasia das histórias que escrevo, mas não…na verdade é tudo muito simples.

O Assobiador é o exemplo vivo daquilo que eu me proponho fazer no meu dia a dia…

 As suas raízes representam a ligação à terra, às origens que o alimentam e ensinam (geneticamente) a sobreviver no meio que o envolve. As suas folhas libertam oxigénio purificando o ambiente. O seu tronco rico em cortiça garante, desde séculos, a subsistência económica de gerações de trabalhadores. E, debaixo da sua sombra, quantas pessoas não se reuniram e partilharam saberes e tradições?

Esta árvore é uma verdadeira lição sobre sustentabilidade. O que podemos aprender com ele e o que devemos passar aos nossos filhos?

  • Equilíbrio – da mesma forma que uma árvore precisa de um determinado equilíbrio de condições (solo, sol, água…) para crescer e se desenvolver, também o nosso desenvolvimento tem de se basear num equilíbrio óptimo entre aquilo que necessitamos e aquilo que damos de retorno. Se apenas retirarmos à natureza estamos a explorá-la, a exercer pressão e a condenar o nosso futuro.
  • Respeito – esta é uma condição essencial para conseguirmos atingir o ponto anterior. Não existe equilíbrio se não existir respeito, seja pela natureza, seja pela envolvente humana em que nos inserirmos e, acima de tudo, por nós mesmos. Esta árvore não poderia ter resistido mais de 200 anos se a sua essência não fosse respeitada, por ela própria, pelo meio em que cresceu, pelos humanos que se cruzaram com ela.
  • Resiliência – sobreviver implica sempre uma dose elevada de resiliência. Resiliência, se uma forma simplista é a capacidade de nos adaptarmos e ajustarmos às condições, aos acontecimentos. Um sobreiro adapta-se à sua nova condição sempre que lhe é retirada a cortiça. Esse processo, em vez de o deixar mais frágil, deixa-o mais fortalecido.
  • Humildade – três pessoas não são suficientes para conseguir abraçar esta árvore. A sua copa imensa é absolutamente imponente e conseguiria, sem dificuldade abrigar toda uma aldeia. É impossível estarmos perante este sobreiro sem pensarmos o quão pequenos e insignificantes somos neste planeta. Então, porque achamos constantemente que dominamos e que a natureza tem de se submeter à nossa vontade?!
  • Contemplação – quando estamos perante algo assim tão belo, devemos ter a capacidade de contemplar, de admirar. Devemos ter essa capacidade no nosso dia a dia e de agradecer a grandiosidade de tudo o que acontece à nossa volta, mesmo sem darmos conta…só assim seremos capazes de respeitar, de compreender o nosso lugar e a nossa ligação ao meio que não só nos envolve, mas faz parte de nós.

No final desta experiência conclui que todas as árvores falam, mas nós não as ouvimos… a verdade é essa! De vez é preciso um encontro com a imponência de uma grande e secular árvore, para percebermos que estamos longe de saber tudo e de ter todas as respostas. Uma árvore sábia, cuja grandiosidade nos lembra quão pequenos somos e quanto ainda temos para aprender.

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