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O poder do hábito

Uma das condições que está associada à maternidade é que toda a gente dá palpites sobre a forma como criar e educar os teus filhos. Se és mãe certamente que já passaste por isso. Arriscaria convictamente a dizer desde o momento da gravidez.

Se prestares atenção às vozes que te rodeiam, com alguma facilidade irás perceber que uma das frases mais utilizadas para dar “conselhos” de parentalidade é: “ele/a tem de se habituar”!

Desde que as crianças nascem, há um número significativo de pessoas preocupadas com os hábitos que estas irão desenvolver…

“Põe-no/a a dormir na cama dele/a para se habituar… Não lhe estejas sempre a dar de mamar para não se habituar a chupeitar… Deixa-o chorar de noite para ele se habituar a dormir sozinho…Deita-o no quarto dele para se habituar… Deixa-o a chorar na escola porque ele tem de se habituar a ficar lá…Não lhe dês colo quando chora para se habituar a ser forte…”…

Estes são apenas alguns exemplos, há muitos mais certamente.

Ora eu não sou, nem pretendo ser, especialista em desenvolvimento infantil ou parentalidade, por isso não vou tecer considerações sobre os efeitos que isto pode ter sobre as crianças (ou mesmo as mães!).

O que eu me questiono quando ouço insistentemente esse tipo de afirmações é sobre o tipo de mensagem que estamos a passar às nossas crianças (e a nós mesmos!) e qual o impacto que isso terá no mundo que queremos ter no futuro.

Quando estamos constantemente a transmitir a ideia de que uma criança tem de se habituar a coisas que lhe são contranatura, na fase de desenvolvimento em que se encontram, que tipo de adultos podemos esperar que se tornem? Como podemos esperar que aprendam a respeitar a Natureza, o Outro, se desde cedo lhes dizemos que se devem habituar a não respeitar os seus instintos mais básicos??

Queremos que se habituem cedo demais a viver sem o aconchego do peito da mãe, do seu calor ao seu lado enquanto dormem, do seu colo quando choram, a ficar com estranhos quando tudo o que querem é voltar para casa com os pais… e esquecemos, tantas vezes por força do nosso próprio hábito (porque desde sempre ouvimos essas vozes) que se tratam apenas de crianças.

Por isso, eu defendo que, de vez em quando (se não for possível sempre) cada um de nós se deve lembrar da criança que foi. O que pensávamos? O que sentíamos? O que desejávamos? Como víamos o mundo?

Talvez, se este espírito estivesse mais presente em cada um de nós, os problemas do mundo fossem mais fáceis de resolver. Se calhar os adultos eram mais felizes e riam mais como as crianças.

Talvez o único hábito que tenhamos de lhes incutir é o hábito de confiarem em si mesmas, de ouvirem a sua voz interior e de agirem em conformidade com ela. O hábito de valorizar o carinho, a segurança e as relações humanas. O hábito de respeitarem o mundo (em todas as suas dimensões) como sempre se devem auto-respeitar.

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